Carta para a Menina Que Sobreviveu em Silêncio

Este texto aborda temas delicados e pode conter gatilhos emocionais. Leia com carinho e, se necessário, busque apoio.

Alguns textos nascem de um lugar que não se explica.

Nascem de um silêncio antigo, de uma dor que ficou guardada, de uma lembrança que nunca foi contada em voz alta.

Hoje, escrevo como mulher, mas volto ao passado para buscar a menina que fui.

Essa carta é para ela — e para todas as meninas que viveram dores invisíveis, dentro de casas que deveriam ser abrigo, mas se tornaram labirintos.

Esse texto não é sobre revolta. É sobre reencontro.

É sobre dar a mão a si mesma e dizer: “eu te vejo, eu te escuto, e eu te acredito.”

💌 Querida eu, aos seis anos…

Você era tão pequena, e o mundo parecia grande demais. Ainda estava aprendendo a brincar, a confiar, a sorrir com leveza, quando algo dentro de casa te roubou isso.

Vieram toques que não eram carinho, palavras que confundiam sua cabeça, silêncios que doíam mais do que gritos. Você não sabia o nome daquilo — mas sabia que era errado.

E você tentou contar. Tentou pedir socorro. Mas, quando as palavras finalmente saíram, o que encontrou foi descrença. E isso doeu ainda mais.

Você seguiu em silêncio. Com medo. Achando que o problema era você.

💌 Querida eu, aos dez… aos doze…

O tempo passou e, ao invés de alívio, veio o distanciamento. Te mandaram para longe — para a casa de outros familiares, para buscar cuidado.

Mas o que encontrou lá não foi proteção. Encontrou o mesmo olhar que te deixava desconfortável.

Você acordava com um nó na garganta e ia dormir torcendo para não ser notada. Cresceu sem espaço para brincar. Aprendeu a esconder sua dor nos olhos e a sorrir para sobreviver.

E ainda assim, seguiu em frente.

Como uma flor crescendo no concreto.

💌 Querida eu, aos quatorze… aos quinze…

Foi quando alguém da sua idade apareceu. Um menino com olhos gentis e alma leve. Ele não exigia nada. Não invadia. Ele te olhou como quem vê, e não como quem toma.

Pela primeira vez, você se sentiu vista — não ameaçada.

Algo dentro de você começou a mudar. Uma força silenciosa surgiu.

Você se afastou do que te feriu. Começou a entender que merecia mais do que o silêncio, mais do que o medo.

Não foi fácil. Mas foi o começo de uma libertação.

💌 Querida eu… hoje.

Eu voltei.

Voltei para te acolher, te abraçar, te dizer o que ninguém disse naquela época:

Você não estava errada.

O que você sentiu era real.

A dor que te atravessou não era invenção.

E hoje, adulta, eu te vejo com todo o amor que você merecia lá atrás.

Você sobreviveu.

E, mais que isso: você floresceu.

Em meio a tanta ausência, você se fez presença.

Hoje eu sou por nós. E prometo não te deixar nunca mais.

Nem toda dor precisa ser contada com palavras duras. Às vezes, basta uma carta sussurrada, um texto com alma e verdade para curar o que nunca foi dito.

Essa carta é um abraço para todas que sobreviveram ao silêncio.

Um lembrete de que é possível florescer, mesmo depois de tudo.

Se você carrega algo parecido, saiba: você não está sozinha.

Buscar ajuda, falar sobre o que doeu, e se permitir viver sem culpa é um ato de amor por si mesma.

Que nossas histórias não nos definam, mas nos fortaleçam.

E que a nossa voz, mesmo suave, ecoe até onde for preciso.

💬 Você também tem algo guardado que gostaria de escrever? Compartilhe nos comentários ou escreva uma carta para você mesma.

Que Nosso Cuidado Não Tenha Data

Falar sobre o cuidado com as crianças não deve ser algo limitado ao mês de maio.
Maio passa — mas as crianças ficam. Continuam crescendo, sentindo, buscando no mundo os abraços que muitas vezes lhes faltam em casa.

Precisamos abrir os olhos. Precisamos escutar, mesmo o que é dito no silêncio.
Nem sempre uma criança grita por socorro com palavras — às vezes, ela cala. E esse silêncio é um grito disfarçado.

Como adultos, temos o dever de ser farol e abrigo.
Cuidar não é apenas alimentar ou vestir. É olhar nos olhos. É perguntar como foi o dia — e querer realmente saber.
É perceber mudanças no comportamento, respeitar os sentimentos e estar por perto.

Sejamos presença segura.
Sejamos voz que protege, mão que acolhe, casa que abriga.
Vamos ensinar pelo exemplo que carinho não invade, que amor não machuca, e que confiança não se força — se constrói.

A infância é curta, mas o que nela acontece ecoa por toda a vida.
Que o nosso cuidado, a nossa atenção e o nosso amor não tenham data marcada para acabar.
Cuidar de uma criança hoje é garantir um adulto mais inteiro amanhã.

E nunca é tarde para começar.

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